Vivemos um tempo de doutrina do pensamento positivo, em essência, não chega a ser complicado: tenha pensamentos positivos, felizes e de sucesso, que o universo vai agir em seu favor, e fuja dos sentimentos de tristeza e medo, e se afaste dos pensamentos de fracasso e de derrota. Com isso a felicidade, a vitória e o sucesso baterão na sua porta. O dinheiro vai cair na sua conta bancária sem que você tenha que fazer nada por isso. Se você expressar uma objeção do tipo “Isso não tem lógica, parece ridículo”, os gurus do pensamento do positivo vão te informar que este é um “pensamento negativo”, por isso o universo não vai conspirar a seu favor. Criticar a força do pensamento positivo é o atestado de que você não o tem. Se tivesse, não estaria questionando essas coisas. E mais, não estaria reclamando de nada. Mais de 30 anos de pesquisa conseguiram provar que não podemos suprimir pensamentos de uma forma definitiva, escolhemos não pensar em algo (muito positivo ou muito negativo) por um tempo, e inevitavelmente o pensamento retorna, simplesmente retorna, e você não tem controle sobre isso. Você pode ler mais sobre a supressão de pensamento no artigo “O controle de pensamentos negativos: uma conversa entre Terapeuta e Cliente” (clique aqui).

Ao mesmo tempo vivemos em uma sociedade que cultiva expectativas extraordinárias para nós mesmos. Devemos ser sempre muito felizes, sempre muito saudáveis, sempre muito inteligentes, sempre muito rápidos, sempre muito fortes, sempre muito ricos, sempre muito bonitos, famosos, produtivos, desejados, reconhecidos, admirados… Ufa! Perdi o fôlego! Sim, eu perco o fôlego. Qual é o problema? Bem, continuando… A lista não tem fim! Somos cobrados a perfeição, e não apenas pelos outros, também por nós mesmos. A sociedade espera que sejamos “incrivelmente extraordinários”. Ter um(a) esposo(o) impecável, filhos perfeitos, tomar café da manhã de hotel 5 estrelas, viajar todos os anos para o exterior, ter um sedã de luxo importado, roupas da moda, celular de última geração, passear de lancha (ou helicóptero) nos finais de semana na praia ou na montanha, para descansa do trabalho extremamente gratificante, em que você passa muitas horas fazendo um serviço importantíssimo que certamente vai salvar o mundo. E você para e pensa “isso não existe”. Sim, concordo “isso não existe para quase todos”, mas um guru do pensamento positivo vai dizer “esta é sua negatividade, afaste isso de você”.

Perceba que a mensagens da doutrina do pensamento positivo se concentram no que não temos. Eles apontam direto para nossas “falhas e fracassos pessoais” (entre aspas, pois só é FALHA e FRACASSO se comparar sua vida com as expectativas irreais da nossa cultura). Com isso, buscamos obsessivamente ser os mais felizes, saudáveis, inteligentes, rápidos, etc., porque pensamos que não somos o suficiente. Quem fica diante do espelho e repete várias vezes que é bonito, rico, e bem-sucedido, é aquele que não se sente bonito, rico ou bem-sucedido o suficiente.

Paradoxalmente, a busca pelo pensamento positivo, torna-se um lembrete do que “falta”, do “fracasso”, do “insucesso”, do “não ser bom o bastante”. Pessoas realmente satisfeitas, plenas e realizadas na vida, não precisam (nem sentem necessidade) de repetir na frente do espelho o quão realizadas e plenas são. Elas simplesmente são, e na melhor as hipóteses, compartilham isto com pessoas íntimas. Um homem seguro de si não precisa provar para ninguém (nem para si mesmo) que é seguro. Uma pessoa realizada não tem necessidade de argumenta sobre o quanto se sente realizada. Uma pessoa rica não precisa se convencer (nem convencer outros) de que é rica. Ou você é (para você mesmo) ou não é. No final das contas o esforço para ter pensamentos positivos se torna uma atitude negativa. Isso te obriga a pensar o quanto você “fracassou” em alcançar as expectativas inalcançáveis da nossa cultura. A frustração é certa! Portanto, tenha metas realistas e alcançáveis. Seja gentil com você, quando não alcançar, ou seja, aprenda a aceitar que não alcançou, e que não há nenhum problema nisso. Reconhecer as próprias  limitações, e se conformar com elas, é uma das características das pessoas plenas e realizadas.

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Inspirado nos livros “Get Out of Your Mind & Into Your Life: The New Acceptance & Commitment Therapy” e “The Happiness Trap: How to Stop Struggling and Start Living”

Referências
Hayes, S. C. (2005). Get out of your mind and into your life: The new acceptance and commitment therapy. New Harbinger Publications.
Harris, R. The happiness trap: how to stop struggling and start living. 2008. Trumpeter, Boston.

Um comentário em “Como a busca pelo sucesso pode te levar ao fracasso

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