Nós, seres humanos, somos únicos em nossa capacidade de controlar o mundo da experiência dos cinco sentidos. Podemos controlar a temperatura em nossas casas através de sistemas de aquecimento e ar-condicionado e nossa temperatura corporal através de roupas. Podemos nos comunicar por longas distâncias e até mesmo no espaço, viajar a uma velocidade incrível e, com sucesso, afastar muitas criaturas mortais, sejam predadores ou patógenos microscópicos. O que torna isso possível? Será que temos corpos mais fortes, músculos mais fortes, garras ou dentes mais afiados ou mandíbulas mais poderosas do que outros animais? Imaginando um diálogo em um atendimento terapêutico, o Cliente diz: Não, é por causa de nossos cérebros! O Terapeuta continua Certo. É o material na nossa cabeça que nos permitiu controlar o mundo da experiência dos cinco sentidos como nenhuma outra espécie viva. Considere o progresso que fizemos em nossa capacidade de controlar o mundo fora da pele nos últimos dois a três mil anos, desde os tempos dos antigos gregos e romanos. Sim, eles tinham casas, e alguns dos muito ricos tinham sistemas de aquecimento central primitivos, mas não tinham vidros nas janelas nem ar-condicionado. Eles tinham roupas, é claro, mas não as roupas modernas de hoje. Eles viajavam principalmente a pé, a cavalo ou em carros ou navios bastante rudimentares. Para as telecomunicações, eles tinham que subir uma colina com um pedaço de metal polido e esperar a luz do sol para que a pessoa na próxima colina pudesse captar o reflexo. Agora podemos fazer teleconferência com qualquer pessoa pela Internet. A medicina sofreu grande avanço, com médicos tão habilidosos em matar pessoas como salvá-las. Você me entende. E todo esse progresso em um curto período de dois a três mil anos é graças a nossas mentes. Quando os humanos encontravam coisas no mundo da experiência de cinco sentidos que não gostavam ou queriam mudar, pensavam seriamente, e talvez trocassem ideias entre si para encontrar soluções. Como resultado, fizemos grandes progressos no controle de muitos aspectos indesejados de nossa experiência externa. Mas e o mundo da experiência interior, o mundo dos nossos pensamentos? Quanto progresso você diria que fizemos desde os dias da Roma antiga? E o Cliente responde: Não muito… O Terapeuta continua empolgado: Exatamente! Não muito! Que tal vermos um pouco mais de perto como as coisas funcionam no mundo dos pensamentos? O Cliente concorda e o Terapeuta continua: Vamos ver os pensamentos. Quantas vezes você já pensou em um unicórnio roxo na semana passada? O cliente responde: Umas duas vezes, minha filha adora unicórnio, isto está na moda. O Terapeuta percebe que precisa mudar o exemplo e diz: Ótimos! E Quantas vezes você já pensou em um elefante roxo na semana passada? O Cliente fala: Zero, isto não está na moda. Terapeuta: Ótimo, então o que vou pedir para você fazer deve ser fácil. Bom é assim: não importa o que você faça nos próximos trinta segundos, não pense em elefante roxo ou qualquer coisa que faça você pensar em elefante roxo. Isso não é para provar nada para mim; apenas veja se você consegue perceber sua experiência interior. Se você notar qualquer coisa que faça você pensar em elefante roxo, apenas acene com a mão para que eu possa ver. Eu farei o mesmo, então nós dois pareceremos muito estúpidos. O Cliente concorda e passa a silenciosamente e quase imediatamente a acenar com a mão, assim como o terapeuta. O Terapeuta continua: Ok, acho que vinte segundos é tempo suficiente. O que você notou? E o Cliente diz: Elefantes em todo lugar! Ou coisas relacionadas a elefante, como marfim, circo, picadeiro, etc. O Terapeuta empolgado: Isso não é estranho? Você não pensou em elefante na última semana. No entanto, tudo o que tenho a fazer é dizer para você não pensar em um e, de repente, os elefantes estão em toda parte! O Cliente cai na gargalhada e o Terapeuta continua: Agora considere este pedaço de papel. Se quiséssemos nos livrar disso, o que poderíamos fazer? Cliente responde prontamente: Você poderia jogá-lo na lata de lixo. E o Terapeuta reconhece e questiona: Certo! Com os conhecimentos que eu tenho, eu poderia simplesmente ir na lata de lixo e recupera-lo. Então, isso seria eficaz a curto prazo, mas talvez não a longo prazo. O que mais? Cliente empolgado responde: Você pode queimar ele. O Terapeuta concorda: Sim! Queimar ele funcionaria. Você acha que eu teria alguma chance de recuperá-lo? O Cliente muito seguro da resposta diz: Não. Claro que NÃO! E o terapeuta concorda e faz um paralelo entre as ideias: Então, no mundo da experiência dos cinco sentidos, se há algo que não gostamos, podemos encontrar uma maneira de nos livrarmos disso, queimando, destruindo ou reciclando. Pode levar algum tempo, ou exigir algum esforço, mas, em geral, podemos eliminar o que nos incomoda. O cliente concorda balançando a cabeça e o Terapeuta continua: Não é assim no mundo dos pensamentos, certo? No entanto, veja se não é o caso em que sua mente lhe diz regularmente para não pensar em algo ou pensar em outra coisa. Quais são as chances que você de controlar os pensamentos negativos? E o Cliente conclui: Nenhuma chance. Quanto mais tento controlar os pensamentos negativos, mais frequentes e intensos eles se tornam! O Cliente aparentemente sem esperança pergunta: E, agora? Isto significa que vou sofre com meus pensamentos negativos o resto da minha? Estou realmente sem saída? Terapeuta com um tom reflexivo: Não é bem assim. Vamos pensar um pouco. Parece que existem regras diferentes para o mundo da experiência dos cinco sentidos e para o mundo da experiência interior. No mundo da experiência dos cinco sentidos, a regra é mais ou menos assim: “Se você não gosta, pense muito nisso, tente coisas diferentes, e eventualmente você pode se livrar dela ou controlá-la”. No mundo da experiência interior, a regra parece ser “Quanto mais você tenta se livrar disso ou controlá-lo, mais você fica preso nele!” Talvez isso seja parte de como ficamos aprisionados, tentando aplicar a regra do mundo da experiência dos cinco sentidos, no mundo da experiência interior. E o cliente angustiado: Sim, mas como eu vou deixar de sofre com os meus pensamentos negativos? E terapeuta com a maior paciência do mundo: Eu não sei o quanto você entende de pescaria. Eu quando era criança costumava pescar em lagos e rios do interior do estado. Quando eu fiquei mais velho, me aventurei a pescar com o meu pai no mar, próximo dos navios. Eu entendo que não é o anzol que faz o peixe morder, é a isca que está presa no anzol, mas vou chamar de anzol. Eu entendo que diferentes espécies de peixes mordem anzóis diferentes. Por exemplo, um anzol serve para pescar peroá e outro para pescadinha. E o cliente apressado: Sim, e o que isso tem a ver com pensamentos negativos? E o Terapeuta com muita calma diz: Assim como os peixes são fisgados pelo anzol, parece que você tem sido fisgado pelos pensamentos negativos. O Cliente surpreso de boca aberta diz em seguida: Verdade! Então, o problema não são os pensamentos em si, é o que eu faço com eles. Eu mordo e sou fisgado e arrastado para longe do que é importante para mim. O Terapeuta balança a cabeça com um gesto de afirmação, e o cliente continua: E como faço para não ser mais fisgado pelos meus pensamentos? O Terapeuta responde: Isso nós vamos treinar no próximo atendimento.

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Trechos de diálogos traduzidos e adaptados por nós do Livro “The Essential Guide to the ACT Matrix” (Polk, Schoendorff, Webster, Olaz, 2016)

Referência

Polk K, Schoendorff B, Webster M, Olaz F. The Essential Guide to the ACT Matrix: A Step-by-step Approach to using the ACT Matrix Model in Clinical Practice. Oakland, CA: New Harbinger Publications, 2016.

Um comentário em “O controle de pensamentos negativos: uma conversa entre Terapeuta e Cliente

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